O Circulo da Mãe de Deus, ou trincheiras e valados na Guerra de Juazeiro de 1914 _ Por Fernando Maia Nóbrega


O CÍRCULO DA MÃE DE DEUS (Ou
Trincheiras e Valados de Juazeiro-CE)...Guerra de 1914..Pe Cícero   x Franco Rabelo
(Por:Fernando Maia Nóbrega)
            A mais significativa forma de defesa usada pela cidade de Juazeiro do Norte, durante a sua sedição em 1914, foi a edificação dos valados e trincheiras, chamados pelos romeiros de “Círculo da Mãe de Deus.”
            A brilhante ideia de cercar Juazeiro com um enorme valado partiu de Antônio Vilanova, ex-combatente  da Guerra de Canudos, residente em Assaré (01) e que fora chamado pelo doutor Floro Bartolomeu  para ajudar na revolta de Juazeiro. Milhares de pessoas, mais precisamente cinqüenta mil, segundo Xavier de Oliveira(02),   foram convocadas  para fazer essas escavações, circundando Juazeiro, em apenas seis dias! A terra retirada dos valados foi colocada a três metros, para o lado dentro da cidade, constituindo as trincheiras.
            Hoje, quase não restam vestígios do “Círculo da Mãe de Deus” e há divergências  mesmo entre  os escritores quanto a extensão, largura e sua localização. O mais antigo deles a expor o assunto foi  Xavier de Oliveira que desta forma se expressou:
“O valado, a trincheira inexpugnável do Juazeiro, tem de profundidade dez, e de largura doze palmos. Toda terra foi carregada para dentro, a alguns metros de distância, formando uma barreira de seis palmos de altura(...)”
São três léguas de vallados”(03)(sic)
           Segundo esse eminente historiador, tendo um palmo o tamanho de 22 centímetros, eis as especificações:
1-         Profundidade: 2.20 metros
2-         Largura:          2.64 metros
3-         Extensão:        18 quilômetros
4-         Localização:    Informa, tão somente, que circundava o Juazeiro.
         
           Já Manuel Diniz, em 1936, especifica:
“(..) em quanto milhares de pessoas cavavam, dia e noite, o grande valado para circundar a cidade, exceto do salgadinho(04) (...) ocupavam posições nas trincheiras que bordavam o valado mais ou menos na extensão de dez quilômetros e formando um semi-círculo do Nascente, Poente e sul desta cidade(05)
             Não  especificando as medidas, Diniz ressalta, apenas, a extensão de dez quilômetros,  e a não existência de valados  para os lados do rio Salgadinho.
             A respeitável escritora Amália Xavier, irmã de Xavier de Oliveira, nos dá a seguinte  informação: “(...) em 6 dias, 9 quilômetros de valados, em extensão, com 8 metros de largura por cinco de profundidade estavam terminados. O monte de areia jogado para  o lado de dentro, tinha de dois a três metros de altura, bombeados, numa distância de 3 mts de um para o outro.(...)”(06)
            Em assim sendo, vejamos a configuração dos valados aos olhos de Amália Xavier:
1-         Profundidade:  5 metros
2-         Largura:           8 metros
3-         Extensão:        9 quilômetros
4-         Localização :    especifica somente a trincheira das malvas.
            Otacílio Anselmo afirma:
“9...0 a verdade, porém, é que a fortificação, em cujo trabalho se empenharam a fundo, dia e noite, milhares de homens e mulheres de todas as idades, utilizando até latas e panelas de barro na remoção da terra, foi praticamente concluído em 5 dias”(07)..
                Mais adiante o autor sobredito informa que não havia valados e trincheiras do lado que corre o rio salgadinho. (08)
                A escritora Fátima Menezes, ao contrário dos autores supracitados, baseando-se no “ Diário de Fausto Guimarães”  sustenta a tese da existência de valados no salgadinhos e os nomeia:
“ 20 de dezembro (Sábado) – Segundo combate. Desta vez na trincheira de Santo Antônio que tem duração de quinze horas. Os rabelistas atacam  em três partes ao mesmo tempo; em volta dos valados: do “Salgadinho”,”Santo Antônio”  e “Quadro Pio X”(09)
            Concluí-se, por conseguinte, não haver uniformidade dos informes sobres os valados e trincheiras edificados em Juazeiro em 1913, no tocante a profundidade, largura,extensão e localização. Sabe-se, entretanto, que foram erguidos nos arredores da cidade os seguinte valados: Malvas, Santo Antônio e Quadra Pio X. A existência no Salgadinho é negada por escritores mais próximos do episódio: M. Diniz e Xavier de Oliveira. Somente Fátima Menezes o cita baseando-se num mapa, sem muita precisão, constante no “Diário de Fausto Guimarães”.
             Quanto às especificações físicas, se todos essas escavações obedeceram a uma medida  uniforme, vendo-se as fotos existentes dos valados e trincheiras, dá-se para se ter uma idéia que a profundidade e  largura mais se assemelham às descritas por Xavier de Oliveira: 2.20 por 2.64 metros.
             Em referência  a extensão territorial a tese mais aceitável é que seja de 09 a 10 quilômetros  conforme depoimentos de Xavier de Oliveira e Amália Xavier de Oliveira, haja vista sua abrangência ir das Malvas ao Horto, percurso este que se aproxima mais da realidade.     No tocante à localização,  Fátima Menezes nomeia quatro   valados e trincheiras: Malvas, Santo Antônio, Quadra Pio X e Salgadinho. Aceitamos também o ponto de vista da maioria dos autores sobre a inexistência de valados  para os lados do Salgadinho, como afirma Fátima Menezes existindo, tão somente, por aqueles lados, uma muralha  na Serra do Horto, mais precisamente no Santo Sepulcro, da qual ainda restam vestígos.
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N O T A S
01-       Amália Xavier de Oliveira – O Padre Cícero que  eu conheci (verdadeira história história de juazeiro) pag. 151
02-       Xavier de Oliveira –Beatos e Cangaceiros pg.56-
03-       Idem.ibidem
04-       Manuel Diniz – Mistérios do Joazeiro pg.129
05-       Idem pg 130
06-       Amália Xavier, o.c. pag. 152
07-       Otacilio Anselmo –Mito e Realidade pag.400
08-       Idem pag 407
09-       Fátima Menezes- Homens e Fatos na História de Juazeiro, pag 79
BIBLIOGRAFIA
Anselmo,Otacílio –Padre Cícero –Mito e Realidade –Ed. Civilização Brasileira Rio de Janeiro 1968
Cava,Ralph Della – Milagre em Joaseiro.Paz e Terra.Rio de Janeiro 1976
Diniz,Manuel – Misterios do Joaseiro – Tipografia do Joaseiro. Juazeiro 1935
Filho, M.B.Lourenço – Juázeiro do Padre Cícero -3ª Edição – Companhia Melhoramento de são Paulo
Montenegro,Abelardo – Fanáticos e Cangaceiros –Ed.Henriqueta Galeno.fortaleza 1973
Menezes,Fátima – Homens e Fatos na história de Juazeiro.Ed. Universitária da UFPE.Recife 1989
Oliveira, Amália Xavier – O Padre Cícero que conheci(verdadeira história de Juazeiro).Rio de janeiro 1969
Oliveira, Xavier de – Beatos e Cangaceiros  Rio de janeiro 1920
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OBS: Fotos, adendo Volta Seca.
Publicado por Voltaseca Volta na página: Cangaço no Facebook

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